quarta-feira, 25 de maio de 2011

Juiz coloca ex-mulher em seu gabinete para não pagar pensão, diz Conselho

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou a exoneração imediata de uma servidora comissionada no gabinete do ex-marido, um desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. O entendimento do conselho foi de que o desembargador Elpídio Donizzetti trocou o pagamento de pensão pelo cargo público de livre nomeação - que paga à ex-mulher do desembargador um salário de R$ 9,2 mil. O tribunal mineiro cumprirá a decisão tão logo seja comunicado oficialmente, informou sua assessoria de imprensaSegundo o desembargador, a pensão a ser paga seria de aproximadamente R$ 3 mil. Ele nega uso do dinheiro público para pagar a pensão, destaca a qualificação da ex-mulher e acusa o CNJ de invasão de privacidade. Segundo ele, houve acesso do conselho às suas declarações à Receita Federal. “Não pelo cargo, mas pela magistratura brasileira”, ele também promete recorrer da decisão do CNJ ao Supremo Tribunal Federal (STF).

“Eu adoraria ser preso e as pessoas dizerem: está no xadrez porque nomeou a mulher dele que faz doutorado na Sorbonne. Ela (ex-mulher) vai para Paris de dois em dois meses e fica dois dias lá, estudando”, afirmou o desembargador ao iG. "Eu acho que estou fora de moda porque não persegui minha ex-mulher. Não negociei cargo público e as portas do meu gabinete estarão abertas para ela se eu conseguir reverter a decisão.”
O caso chegou ao CNJ por meio de denúncia do Sindicato dos Servidores da Justiça de Segunda Instância do Estado de Minas Gerais (Sinjus-MG). “Temos uma função fiscalizadora e, nesse caso, a denúncia foi fundamentada. O CNJ pediu cópia do acordo de separação. Constava essa cláusula. Ela estava em um gabinete, mas o desembargador se aposentou. Então, ela foi nomeada para o gabinete do ex-marido”, contou o presidente do Sinjus-MG, Robert França.
Uma juíza que validou o acordo de separação com a cláusula envolvendo o cargo público também foi julgada pelo CNJ, mas absolvida. Pela sua punição votaram apenas três dos 13 conselheiros do órgão presentes na sessão.
Eu falei para ela que tinha uma vaga em meu gabinete. Falei “trabalhe comigo lá, é bacana demais”
Donizetti afirma que a mulher, Leila, é funcionária de carreira do Tribunal de Justiça de Minas Gerais há 19 anos, antes mesmo de eles se casarem, em 1996. A separação veio em 2009, quando ela trabalhava para um outro desembargador que, entretanto, decidiu aposentar-se no final do mesmo ano. “Eu não podia prever que o desembargador ia se aposentar. Ela me disse que tinha outra proposta, mas eu falei para ela que tinha uma vaga em meu gabinete. Falei 'trabalhe comigo lá, é bacana demais'. Eu a nomeei no início de 2010”, lembra Donizetti.
O desembargador reclama de não ter tido acesso à decisão do CNJ sobre seu caso. Ele conta que ficou sabendo de detalhes do processo por meio da imprensa e lamentou ser tratado com “descaso“. Também faz questão de afirmar que, apesar de ser bem remunerado como desembargador, não é "muito ligado a dinheiro". Por isso mesmo, segundo ele, não teve qualquer dificuldade em doar R$ 400 mil à ex-mulher, para ajudá-la a comprar um apartamento. “Já comprei minha vaga no cemitério e não devo nada a ninguém. Sou um brasileiro típico. O dinheiro, para mim, vale pouco, vivo de forma modesta”, afirma.

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